O documentário feito sobre Bukowski, Born into this, ajudou a confirmar a suspeita que já havia começado com o primeiro livro que li dele, Pulp. Vi alguma semelhança com Henry Miller, que se confirmou ao conhecer mais sobre o poeta alemão. Se o rigor com a escrita e o número de páginas por obra os separa (maiores em Miller), uma visão de vida os aproxima: ambos enxergavam o trabalho comum, esse que paga algumas contas e te tira e te põe na cama em horários indevidos, como um passo a ser dado para que se chegasse a um objetivo maior. Um mal a ser diariamente combatido e superado para que pudessem viver da escrita. Ambos recusaram-se a encarar o trabalho como um fim em si, um estacionamento de vidas que talvez-quem-sabe-um-dia possam realizar seus sonhos.
O Notas de um velho safado, de Bukoswki, é bom demais. Quem sabe hoje atinja a metade das 260 páginas. Mas com o pouco lido já rendeu muita coisa, como dá pra perceber. Aí vai:
- “Mas eu tenho um velho ditado (invento velhos ditados enquanto passeio por aí em meus farrapos) que diz que o conhecimento que não se realiza é pior do que a ausência total de conhecimento”.
- “O próximo sujeito que chamasse o dinheiro de pão deveria ser pago totalmente em trigo”.
- “O que esses malditos revolucionários que ficam zanzando ao redor do meu apartamento bebendo a minha cerveja e comendo a minha comida e exibindo as suas mulheres precisam aprender é que a coisa deve vir de dentro pra fora. não se pode dar a um homem um novo governo como um novo chapéu e esperar um homem diferente dentro desse chapéu”.
- “Antes de matar qualquer coisa certifique-se se tem alguma coisa melhor pra por no lugar”.
- “Os rapazes berrando pelo seu sacrifício nos parques públicos são geralmente os que estão mais longe quando o tiroteio começa. eles querem viver para escrever as suas memórias”.
- “por favor, tenha cuidado com os seus líderes, pois existem muitos nas suas fileiras que prefeririam ser presidente da General Motors do que incendiar o Posto Shell da esquina. mas como eles não podem ter um ele pegam o outro”.